segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Criação de Bezerras


Por Luis Einar Suñe
A pecuária leiteira brasileira vai muito bem obrigado! Para os profissionais do setor logicamente.
O valor recebido hoje pelo litro de leite no Brasil é historicamente o mais elevado em relação ao câmbio da moeda estadunidense. Ano ótimo para capitalizar a atividade.
Os insumos sofreram altas, mas mesmo assim inferiores a suba obtida pelo litro de leite em quase todo o Brasil.
Devido a este excelente preço recebido pelo leite, escutamos inúmeras vezes de parte dos produtores que devemos priorizar o envio do máximo de litros aos laticínios em detrimento da boa criança das bezerras.
Grave erro se cometermos este ato, pois as Bezerras se bem criadas seguindo-se as boas práticas de manejo e nutrição, representam o futuro, o sucesso e a perpetuação da empresa leiteira na atividade.
Pesquisas recentes e revisões de trabalhos publicados desde o século passado estão nos mostrando que algumas técnicas ou metodologias usadas atualmente na cria de Bezerras, podem e devem ser reavaliadas.
Buscando atualizar conceitos e colocar na pauta de discussões, deixaremos através deste breve texto algumas alternativas fundamentadas nestes trabalhos de pesquisadores nacionais e internacionais que propõem que sejamos mais eficientes neste tema tão importante, que é a correta criação das bezerras, pilares mestres que farão à reposição das vacas na propriedade dedicada a exploração leiteira.
Nunca haverá vacas saudáveis, produtivas e longevas se a atenção e o esmero dedicados as fases de cria e recria das fêmeas não receber prioridade na empresa, desde aquela que explora poucos animais até a de milhares de cabeças.
As assessórias técnicas e os departamentos de empresas ligadas ao setor leiteiro serão cada vez mais necessários aos empresários, pequenos, médios ou grandes que se propuserem a sobreviver competitivamente nos tempos que advirão.
Adotar algumas ou todas as inúmeras metodologias para criação das bezerras é uma decisão de cada empresa ou produtor, o que podemos afirmar é que todos estes conceitos de criação possuem embasamento de campo e muita pesquisa. Concretamente, a certeza que temos é de que o maior ou menor progresso genético e conseqüentemente sucesso na atividade, passa sem dúvidas por este processo de gerir técnica e profissionalmente este setor da empresa.
Descreveremos a seguir, tentando manter uma ordem cronológica, alguns procedimentos que envolvem o pré-nascimento, pós-nascimentos até a fase de desaleitamento de bezerras, a fim de colaborar neste assunto proposto.
PROPOSIÇÕES PARA MELHOR EFICIÊNCIA DE CRIAÇÃO BEZERRAS E JUSTIFICATIVAS:
1-    O sucesso da cria depende intimamente de uma fase ainda precedente, que é o correto preparo da vaca gestante. Mantenha as futuras mães em bom estado corporal, alimentadas corretamente com concentrados pré-parto, diferentes estes, em sua composição, dos concentrados para lactação. Não permita que suas vacas cheguem ao parto com escore corporal excessivo. Isto trará complicações ao parto e pós-parto. Vacas gordas ao parto possuem tendência a apresentarem distúrbios metabólicos e reprodutivos subseqüentes;
Mineralize corretamente. Inicie uma dieta pré-parto entre 30/45 dias antes da data prevista para o mesmo.
Tenha sempre em mente proporcionar e manter estas futuras mães em piquetes com boa sombra, boa água e vigiadas, para proporcionar auxilio aos partos que se apresentarem distócicos;
2-    Nascida a bezerra, trate de fazê-la mamar o mais rápido possível após o parto, pois é nestas primeiras horas que o colostro produzido pela mãe, lhe proporcionará imunidade passiva para o início de sua vida. Ponha como meta fornecer 4 litros de colostro até 6 horas após nascimento. A única forma de obtermos certeza da ingestão deste volume é ordenhando a vaca e fornecendo via mamadeira estas quantidades. Se deixarmos a bezerra solto com a mãe para que esta amamente por si só, não teremos a certeza da ingestão mínima necessária nas primeiras horas de vida;
3-    Bezerros naturalmente possuem um ângulo de cabeça e pescoço adequado para ingerirem leite, mantendo a cabeça mais elevada ao corpo, portanto alimentar com mamadeira é o mais próximo ao natural, evita-se ou previne-se assim  distúrbios alimentares que podem advir quando os bezerros chupam o leite em baldes ou vasilhas, que muitas vezes ainda se encontram sujos e leite com em temperatura muito abaixo da que eles deveriam receber. O fornecimento de leite frio é fator colaborador para diarréias.
4-    Os bezerros, quando criados pela sua mãe, alimentam-se muitas vezes ao dia, acima de oito mamadas e com um  tempo de ingestão muito mais elevado ( aproximadamente 5 á 8 minutos cada vez ). Quanto tempo levam “chupando”  o leite no balde ou vasilha quando nós os alimentamos ? Muito rápido, verdade? Então, se possível, busque alimentar 3 vezes ao dia, com leite em temperatura corporal ( 36 graus ), com mamadeiras adequadas a este fim, sabendo quanto estão ingerindo, com vasilhames limpos, estando assim mais próximo ao que a naturalmente a vaca forneceria se estivesse encarregada de criar sua bezerra.
5-    Juntamente com a preocupação em fornecer um bom colostro no tempo mais próximo ao parto, proceda a desinfecção do umbigo do recém nascido,  com álcool iodado 10% entre 2 a 3 vezes no primeiro dia de vida, repetindo este procedimento 1 vez/ dia durante a primeira semana de vida da bezerra. O umbigo que não se mumifique pelo uso do álcool iodado é uma enorme porta de entrada para germes nocivos á saúde destes jovens animais;
6-    A correta atenção dedicada à bezerra no primeiro mês de vida e mais ainda há primeira quinzena, possui papel relevante no futuro produtivo desta fêmea. Antigas técnicas de criação recomendavam que as bezerras devessem ingerir por dia 10% de seu peso em leite, ou seja, deveríamos fornecer algo ao redor de 4 litros de leite por dia. Naquele momento, desejava-se que tais bezerras iniciassem também a ingestão de concentrado de alta qualidade, supondo-se que este último viria a suprir as necessidades nutricionais. Modernos estudos comprovam que aproximadamente 3 litros de leite/dia, supririam apenas as necessidades metabólicas de manutenção do recém nascido. Então resta-nos a pergunta: E para crescer? Para crescer necessitamos outro tanto igual, ou seja, 6 a 8 litros/dia. Esta é a quantidade de leite que se deve fornecer á uma bezerra que se pretenda criar saudável e bem nutrida.
7-    Nunca deixe de iniciar o fornecimento de concentrado de excelente qualidade a partir do 7º. dia de vida, além de feno com os mesmos requisitos do concentrado. Ambos serão os responsáveis por conseguirmos o desaleitamento em menor espaço de tempo;
8-    A fim de tentar reduzir custos, pode iniciar o uso de substituto lácteo após 30 dias do nascimento, nunca antes;
9-    O desaleitamento deve ser programado paulatinamente. Jamais suspenda o fornecimento de leite de um dia para outro. Lembre-se que animais jovens são muitos suscetíveis á estresse e a parada de fornecimento abrupta causa enorme estresse e este pode desencadear o aparecimento de enfermidades indesejáveis nesta categoria de animais;
10-                      Mantenha uma planilha de controle de consumo de alimentos e ganho de peso de cada bezerra. Revise sistematicamente esta planilha, para observar quais animais estão se alimentando bem devido ao crescente aumento do consumo de concentrado e feno e para também acompanhar os GMD (ganho médio diário). Assim o desaleitamento será efetuado corretamente, ou seja, poderemos suspender o fornecimento do leite ou sucedâneo no momento em que estes animais estiverem ingerindo acima de 1 kg de concentrado de alta qualidade com teor de proteína ao redor de 22% e também feno. Este consumo se dará ao redor de 60 a 75 dias de vida na maioria das ocasiões.
11-                      Mantenha como objetivo, um ganho médio de peso a ser obtido ao dia de 750 gramas. Este ganho lhe permitirá chegar com estas bezerras aptas para inseminar aos 14/16 meses de vida e terem os primeiro parto aos 24/25 meses.
12-                      Nunca forneça concentrados com NNP (Uréia) para animais até 90 dias de vida. Eles não possuem capacidade de metabolizar a uréia.
13-                      Evite ao máximo o uso de silagem para animais até 60/75 dias de vida, a fibra destes volumosos não é indicada para esta categoria. Feno de boa qualidade faz enorme diferencial para bezerros, se comparado á silagem.
14-                      Desaleitada a bezerra mantenha sempre ao dispor volumosos de boa qualidade, concentrado, suplemento mineral indicado tecnicamente para esta fase e um plano sanitário e profilático que priorize a nutrição, saúde e bem estar desta futura vaca.
15-                      As palavras de ordem para esta categoria são muito cuidadas, atenção, acompanhamento, boa alimentação, conforto e por fim, reproduzi-la com a melhor genética possível.

Até uma próxima

Luis Einar Suñe
Med. Veterinário
Espec. em Nutrição, Manejo e Produção de Bovinos Leiteiros
Gerente de Produção e Operações Agropecuárias
COAPRO – Coop. Mista Agropecuária dos Produtores Rurais de Orizona
64 - 81230084 / 9971 3211 / 3474 2299
coapro.dn@hotmail.com

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