quarta-feira, 6 de julho de 2011

Poemas da Terra

LAMENTO DE UM RIO
Nasci no meio de uma restinga
A vegetação com carinho me cobria
Minha água era limpa e cristalina
Pois as matas ciliares me protegia

Com aquela sensação de liberdade
Meu percurso todo dia eu fazia
Saciando a sede dos sobreviventes
Que da minha água bebia

Eu contornava os obstáculos
Encontrados pelos caminhos
Me servia como abrigo
De peixes e de bichinhos


Sempre umedecia as plantas e o ar
Subia ao céu em forma de vapor
Voltava à terra em forma de chuva
Sempre fui um rio a serviço do Criador

Mas o homem com sua ganância
Mudou meu roteiro completamente
Desmataram minhas margens
Fazendo assorear minhas nascentes

Construíram-se barragens em meu leito
E jogaram em mim os dejetos da cidade
Matando minha vida e meus peixes
Com a mais pura crueldade

Minha água hoje é rejeitada
Pois não é a mesma de outrora
Seu mau cheiro é insuportável
Não sirvo para nada agora

Já não umedeço mais o ar
Já não subo mais em forma de vapor
Já não desço mais em forma de chuva
Já não sou mais o rio a serviço do seu Criador

A poluição me arrasa
Virei abrigo de insetos
Hoje sou palco de doenças
E depósito de dejetos

Já não posso sobreviver
Porque não suporto mais a agonia
Meu lamento é por socorro,
Aos defensores da ecologia
Orizona, 10 de outubro de 2001
José de Sousa Péres
(Zé Conceição
)

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