Se eu fosse pintora... Gostaria de pintar um único quadro... E nesse quadro registrar o que há de mais sagrado em minha memória.
Em primeiro plano, a casa enorme, cheia de janelas, onde eu ficava horas a contemplar a estrada que dava acesso à fazenda, sempre esperando ver meu velho pai voltando da cidade e trazendo alguma novidade que agitasse aquela vidinha sossegada. Ao redor da casa, todo aquele espaço gramado, onde brincávamos todas as tardes, até o anoitecer, apesar dos protestos do meu pai, sempre preocupado com nossa segurança. Bem no meio do gramado, a paineira, em pleno meio mês de maio toda coberta de flores.
Mais adiante, o quintal. Ah! O quintal! Era lá o lugar mágico! Esse, sim, mereceria ser pintado com todos os detalhes. As mangueiras em que eu subia imitando meus irmãos mais velhos e das quais nunca conseguia descer sozinha e chorava até aparecer socorro, com a promessa de que aquilo não se repetiria. As laranjeiras, todas, especialmente aquela enorme, cujas raízes serviam de parede pra casinha de bonecas de pano e em cujos galhos nós amarrávamos o balanço e eu disputava a vez de balançar, com meus dez irmãos.
Bem no meio do quintal a bica de água sempre friinha, pra gente beber, sem se preocupar com nenhum tipo de contaminação. E já ia me esquecendo... Pintaria também o monjolo e o calabouço, onde caía toda aquela água pra gente se refrescar em dias de calor.
E bem lá no fundo do quintal, o engenho, nosso lugar preferido, onde bebíamos a garapa fresquinha e de onde vinha o grito dos homens tocando os bois e o som dos carros cheios de cana.
Um de cada lado da casa, o paiol e o curral, os lugares mais frequentados por meu pai e por isso, os que mais nos fazem lembrar sua presença. Na frente da casa, a calçada onde sentávamos todos pra contar histórias e fazer brincadeiras variadas.
Mas, acima de tudo, gostaria de eternizar nesse quadro, aquilo que pintor algum jamais pode registrar numa tela: As histórias contadas naquelas tardes, na calçada; as gargalhadas do meu pai; a alegria de todos ao receber uma visita; o tom respeitoso das conversas entre pai e filhos; o cheiro de café coado e dos biscoitos assados em forno de barro; o sabor das frutas colhidas no quintal e do araçá que meu pai trazia ao voltar do cerrado, quando campeava o gado; o calorzinho do leite tirado na hora, que eu nem gostava do sabor, mas tomava só porque meu pai me oferecia com carinho e atenção.
E que esse quadro fosse infinito, para que nele eu pudesse pintar todas aquelas coisas que só aprendi a valorizar depois que não existem mais. (Por *Prof. Maria do Rosário Fernandes de Castro, Licenciada em Letras pela Universidade Estadual de Goiás - UEG, bibliotecária na EFAORI.)
Em primeiro plano, a casa enorme, cheia de janelas, onde eu ficava horas a contemplar a estrada que dava acesso à fazenda, sempre esperando ver meu velho pai voltando da cidade e trazendo alguma novidade que agitasse aquela vidinha sossegada. Ao redor da casa, todo aquele espaço gramado, onde brincávamos todas as tardes, até o anoitecer, apesar dos protestos do meu pai, sempre preocupado com nossa segurança. Bem no meio do gramado, a paineira, em pleno meio mês de maio toda coberta de flores.
Mais adiante, o quintal. Ah! O quintal! Era lá o lugar mágico! Esse, sim, mereceria ser pintado com todos os detalhes. As mangueiras em que eu subia imitando meus irmãos mais velhos e das quais nunca conseguia descer sozinha e chorava até aparecer socorro, com a promessa de que aquilo não se repetiria. As laranjeiras, todas, especialmente aquela enorme, cujas raízes serviam de parede pra casinha de bonecas de pano e em cujos galhos nós amarrávamos o balanço e eu disputava a vez de balançar, com meus dez irmãos.
Bem no meio do quintal a bica de água sempre friinha, pra gente beber, sem se preocupar com nenhum tipo de contaminação. E já ia me esquecendo... Pintaria também o monjolo e o calabouço, onde caía toda aquela água pra gente se refrescar em dias de calor.
E bem lá no fundo do quintal, o engenho, nosso lugar preferido, onde bebíamos a garapa fresquinha e de onde vinha o grito dos homens tocando os bois e o som dos carros cheios de cana.
Um de cada lado da casa, o paiol e o curral, os lugares mais frequentados por meu pai e por isso, os que mais nos fazem lembrar sua presença. Na frente da casa, a calçada onde sentávamos todos pra contar histórias e fazer brincadeiras variadas.
Mas, acima de tudo, gostaria de eternizar nesse quadro, aquilo que pintor algum jamais pode registrar numa tela: As histórias contadas naquelas tardes, na calçada; as gargalhadas do meu pai; a alegria de todos ao receber uma visita; o tom respeitoso das conversas entre pai e filhos; o cheiro de café coado e dos biscoitos assados em forno de barro; o sabor das frutas colhidas no quintal e do araçá que meu pai trazia ao voltar do cerrado, quando campeava o gado; o calorzinho do leite tirado na hora, que eu nem gostava do sabor, mas tomava só porque meu pai me oferecia com carinho e atenção.
E que esse quadro fosse infinito, para que nele eu pudesse pintar todas aquelas coisas que só aprendi a valorizar depois que não existem mais. (Por *Prof. Maria do Rosário Fernandes de Castro, Licenciada em Letras pela Universidade Estadual de Goiás - UEG, bibliotecária na EFAORI.)
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